Se você já atuou no mercado de arquitetura ou engenharia, provavelmente já ouviu falar sobre Reserva Técnica (RT), uma prática comum entre profissionais e fornecedores. Neste artigo, vou explicar como a RT funciona, por que considero essa prática prejudicial e quais são as consequências tanto para os clientes quanto para o mercado. Além disso, vou compartilhar algumas estratégias que podem substituir essa prática de forma ética e vantajosa para todos os envolvidos.
O que é Reserva Técnica (RT)?
A Reserva Técnica, ou RT, é uma comissão paga ao profissional de arquitetura ou engenharia por indicar produtos ou serviços de fornecedores para os seus clientes. Funciona como uma espécie de comissão de vendas: o profissional especifica, por exemplo, um revestimento ou uma louça sanitária para um projeto e, quando o cliente faz a compra, o fornecedor paga uma porcentagem ao arquiteto ou engenheiro. Essa porcentagem pode variar de 5% a 20% sobre o valor do produto ou serviço.
Essa prática se estende não apenas à venda de materiais, mas também à indicação de prestadores de serviços, como mão de obra ou projetos complementares.
A questão ética por trás da RT
A grande polêmica em torno da RT é a falta de transparência com o cliente. Muitos profissionais não deixam claro que estão recebendo uma comissão por indicar determinados produtos ou serviços, o que gera um conflito de interesses. Afinal, o cliente pode se questionar se a escolha do profissional foi feita com base na qualidade ou no valor da comissão que ele iria receber.
Imagine se você descobrisse que o seu médico recebe comissões de uma indústria farmacêutica por indicar certos remédios. Isso não geraria dúvidas sobre a verdadeira intenção da prescrição? O mesmo ocorre na arquitetura e engenharia. Quando o profissional recebe por duas fontes (o cliente e o fornecedor) sobre o mesmo trabalho, surge um conflito ético, e a confiança do cliente pode ser quebrada.
Impacto da RT no mercado de arquitetura e engenharia
A RT também gera distorções no mercado. Quando profissionais aceitam essas comissões, muitos acabam reduzindo o valor dos seus projetos, esperando compensar a diferença com as comissões recebidas. Isso cria uma concorrência desleal, já que o cliente nem sempre entende o verdadeiro custo do projeto e, quando confrontado com orçamentos mais altos, pode pensar que o profissional que cobra o valor justo está supervalorizando seu trabalho.
Além disso, essa prática pode afetar diretamente a confiança entre cliente e profissional. Quando o cliente descobre que o arquiteto ou engenheiro está ganhando uma comissão, ele pode buscar alternativas por conta própria, desvalorizando o projeto original e alterando detalhes importantes sem a orientação do profissional.
A posição do CAU sobre a Reserva Técnica
O Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) já se manifestou sobre essa prática, classificando-a como uma infração ao código de ética. O CAU defende que o profissional deve agir de forma transparente e imparcial, sempre priorizando os interesses do cliente.
Uma alternativa à RT: Transparência e confiança
Aqui no nosso escritório, desde o início, decidimos não aceitar RT. Em vez disso, criamos um documento chamado “Dispensa de Reserva Técnica”, no qual o cliente e o fornecedor concordam que não haverá comissões envolvidas. Isso não apenas aumenta a confiança entre cliente e profissional, mas também permite que o cliente consiga melhores descontos diretamente com os fornecedores. Afinal, os fornecedores costumam oferecer um desconto de 5% a 10% quando sabem que não precisarão pagar a comissão.
Além disso, essa postura ética se torna um poderoso argumento de venda. Ao explicar para o cliente que estamos do lado dele, que nossas especificações são baseadas no que é melhor para o projeto e não no que vai nos gerar lucro extra, fortalecemos a relação de confiança e fidelizamos clientes a longo prazo.
A Reserva Técnica, apesar de comum, é uma prática que pode prejudicar o mercado de arquitetura e engenharia. Ela gera distorções de preço, quebra a confiança entre cliente e profissional, e é considerada antiética pelo CAU. Ao optar pela transparência e deixar claro que você está do lado do cliente, você não só constrói uma reputação mais sólida, como também contribui para um mercado mais justo e equilibrado.
E você, o que pensa sobre a RT? Já passou por alguma situação envolvendo essa prática? Deixe sua opinião nos comentários!
Assista ao vídeo completo sobre a visão da RT diante de diferentes pontos de vista: dos profissionais que recebem, que não recebem, dos clientes, do conselho de arquitetura (CAU) e até mesmo dos lojistas!
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